14 de agosto de 2015

Farmacêuticas querem crescer em vacinas para adultos no País

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Publicado 14/08/2015

O crescimento da população idosa no Brasil é uma das maiores bases da indústria farmacêutica para expandir os negócios e as pesquisas em vacinas para o tratamento de adultos nos próximos anos.

O desafio, de acordo com representantes do setor ouvidos pelo DCI, é a cultura do brasileiro que ainda não está habituado a esse tipo medicamento. Para eles, até mesmo uma parcela da população idosa ainda reluta em aderir à vacinação como prática de prevenção de doenças na vida adulta. Mas iniciativas do governo podem impulsionar esse mercado, que até 2050 vai representar 29,3% da população brasileira. Conforme dados da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), atualmente, 11,7% dos brasileiros tem 60 anos ou mais. Já o grupo com 80 anos ou mais, que hoje corresponde a 1,5% da população deve saltar para 6,7% no mesmo período.

“O mercado de vacinas é extremamente ativo e a tendência é continuar crescendo com a mudança no perfil da população, que está envelhecendo e se cuidando mais. Além da constante inovação por parte das indústrias”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini.

Ele cita as campanhas de estímulo a vacinação contra a gripe em idosos, promovidas pelo Ministério da Saúde, como uma das ações que tem ajudado a ampliar o mercado para além da vacinação infantil.

O aumento da preocupação das pessoas acima de 50 anos com a vacinação também tem sido observada pela Pfizer. A farmacêutica vê na demanda dos idosos uma oportunidade para se desenvolver.

“Estamos vendo a pirâmide [da população] brasileira começando a inverter, o que naturalmente chama mais atenção para essa faixa etária”, conta o gerente médico da Pfizer Brasil, Eurico Correia.

A empresa fez um levantamento para identificar a visão dos brasileiros sobre o envelhecimento e apurou que 77% dos entrevistados tem receio de apresentar problemas de saúde ao envelhecer.

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Demanda

O executivo explica ainda que, com o aumento do número de idosos, os tipos e características das doenças mudam, principalmente em função da menor eficácia do sistema imunológico.

Como estratégia para ganhar cada vez mais espaço nesse mercado, a Pfizer espera oferecer vacinas para prevenção de doenças as quais essa parcela da população é mais suscetível, como problemas no sistema respiratório.

“A vacinação [para adultos] é ainda um território quase que totalmente inexplorado. Já existem algumas para gripe, hepatite e pneumonia, mas ainda é preciso que o médico explique a importância da vacinação para os pacientes”, diz.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos da farmacêutica no País, detalha o executivo, tem foco nos idosos, mas não se restringe a essa parcela da população.

“Existem necessidades médicas que hoje não estão sendo atendidas, nas quais queremos investir para oferecer melhor qualidade de vida e soluções para essas demandas”, comenta.

No segundo trimestre deste ano, os negócios de vacina da Pfizer ganharam destaque ao incrementar o desempenho global da companhia.

A demanda pela vacina contra pneumonia, junto com as vendas de um medicamento para câncer de mama contribuiu para o aumento da receita e do lucro no período. A receita com a unidade de vacinas global registrou alta de 44% para US$ 1,58 bilhão no trimestre, respondendo por 13% da receita total no período.

A MSD, subsidiária da Merck & Co., também investe no segmento de vacinas para manter o crescimento no País. A empresa, que importa as vacinas da unidade instalada nos Estados Unidos, acompanha não só a mudança no perfil da população, como o avanço da infraestrutura nos serviços de saúde.

“Um fator importante quando olhamos para as perspectivas desse mercado é o acesso a vacinação. Porque na África, por exemplo, ainda temos uma taxa de nascimento alta, mas não tem infraestrutura para ofertar vacina. Nesse aspecto o Brasil está mais avançado, o que representa uma boa oportunidade de expansão”, avalia o diretor de comunicação e relações governamentais da MSD, Guilherme Leser.

O portfólio de vacinas da companhia, conta ele, atende desde a demanda da população infantil até os adultos. No Brasil, a diferença é a incidência de doenças tropicais, como a dengue, cuja vacina está em desenvolvimento pela MSD.

“Temos também outras vacinas para alguns tipos de pneumonia em processo de lançamento e meningite”, diz. Para ele, o principal apelo das vacinas para o sistema de saúde é o custo-benefício, já que funciona como uma ação preventiva.

A perspectiva de reduzir gastos com o tratamento de doenças, revela Guilherme Leser, é um dos fatores que faz a empresa apostar no aumento da demanda de vacinas por parte dos seguros privados de saúde.

“O mercado de seguros de saúde agora começa a desenvolver modelos de prevenção para os associados e a vacina entra nesse modelo”, ressalta.

Saúde pública

A demanda do setor público, importante cliente da indústria farmacêutica, também deve crescer com a mudança do perfil da população. “O governo é um dos nossos principais clientes, porque vê a vacinação como uma forma de melhorar a qualidade de vida da população a custo baixo, além de reduzir gastos com o tratamento de doenças”, observa Leser.

A MSD vende para o Ministério da Saúde vacinas para prevenir o papilomavírus humano (HPV, na sigla em inglês) e a hepatite A em processos de transferência de tecnologia. “O governo tem hoje quase todas as vacinas disponíveis no calendário, o que ele faz é restringir o acesso por faixa etária. Mas nos próximos anos a tendência é expandir a vacinação, incluindo mais os adultos”, comenta.

O executivo espera que, nos próximos anos, o investimento público em infraestrutura para a distribuição e acesso as vacinas aumente, ajudando a sustentar a expansão do segmento.

Já no setor privado, a regulamentação da aplicação de vacinas em farmácias é um dos principais fatores que podem contribuir para a alta na demanda do segmento, diz Mussolini, do Sindusfarma.

Fonte: DCI

Foto: Freepik

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