19 de novembro de 2024
O 6º Fórum Abradilan de Desenvolvimento Empresarial, que aconteceu na última semana, trouxe à tona debates importantes para o crescimento do mercado farmacêutico como um todo, entre eles, um assunto inédito para o setor: Liderança Feminina no Mercado Farmacêutico.
A participação da mulher em cargos de liderança vem crescendo nos últimos anos, é possível ter esta percepção, mas ainda não está em pé de igualdade com os homens. Eles ainda ocupam os cargos de liderança com mais frequência do que as mulheres. Mas o tema vem ganhando relevância mundial, tanto que em 2010 a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a ONU Mulheres que é uma entidade para a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.
A Hypera Pharma é um exemplo, já que na companhia as mulheres representam 50% do total de colaboradores e 36% da alta liderança. “Acho que a mulher pode ser inserida em todas as áreas do mercado farmacêutico. Não existe uma ou outra que ela pode ser melhor ou pior ou menos importante. Acho que em todas as áreas a mulher tem condição de ser inserida”, pontuou a diretora geral da Neo Química, Ana Biguilin.
No que diz respeito ao comportamento feminino no início da carreira, no Fórum Abradilan a diretora comercial da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Karen Corridoni, disse que no início da carreira as mulheres precisam tomar alguns cuidados, vestir uma armadura e ir para a luta. “À medida que você vai conseguindo o seu espaço, já não é mais preciso. Aí você já pode mostrar mais o seu outro lado, a sua sensibilidade. Não adianta a gente pensar que somos iguais aos homens, nós não somos e está tudo certo, está ótimo e é bom que a gente não seja.”
Ela comentou que na questão salarial ainda há diferenças, mas é algo que vem evoluindo muito. “Muitas vezes, as mulheres não se sentem tão capazes quanto os homens, aí elas procuram estudar mais e é isso que acaba com que ela negocie menos o salário. A gente já espera que o homem negocie, porque ele é o provedor e a mulher não, por isso, a mulher acaba aceitando o que lhe é oferecido.”
A diretora da TrianguloMed, Gilmara Vicentini, deixou um recado para as mulheres que estão no começo e que almejam se tornar líderes: “Acreditem em vocês mesmas, corram atrás dos seus sonhos porque é super possível ser líder, ser gestora é uma delícia, trabalhar muito é muito bom.”
Seguro para o centro de distribuição
Um assunto inovador foi Seguro do Centro de Distribuição (CD) – Conheça os Pontos Críticos da sua Apólice. Para participar do painel, o Fórum recebeu o diretor de novos negócios da MDS Group, Vitor Garibaldi, que explicou que entre os pontos mais polêmicos estão as dúvidas na hora das contratações das apólices.
O processo de contratação de seguros para um centro de distribuição, por exemplo, é muito parecido com o de um carro. Normalmente quando as seguradoras fazem as determinações das apólices elas utilizam algumas informações básicas para avaliar os riscos. “Qual o tipo de construção, qual a atividade desempenhada, se é uma indústria, um estoque, uma residência, que tipo de indústria ela é, qual é a localização dela, quais os sistemas operacionais etc.”
O executivo explicou durante o Fórum Abradilan que a cada três anos é feita uma avaliação e com base em um critério de depreciação e de atualização do patrimônio é possível ter valor e risco. “Quando a gente vai usar esse laudo de avaliação patrimonial, além da contratação da apólice, também entra o processo de regulamentação do sinistro que acontece de maneira mais fluída quando a gente tem essa informação atualizada. E aí tem um ponto interessante para o mercado farmacêutico: qual o valor em risco que eu tenho que avaliar para declarar o meu estoque? Seu eu declarar o valor do estoque médio, que seria o correto, corro o risco de estar com uma subdeclaração de valores em contrapartida; se declaro o valor de pico, a seguradora, que vai calcular o preço em cima de um valor de pico. Então, você vai estar pagando um prêmio para o valor máximo durante a vigência da apólice, você tem um valor médio menor do que o valor de pico. O que costumamos fazer? A gente declara para a seguradora o estoque médio previsto no período de 12 meses que ele vai ser utilizado como base para o cálculo do prêmio da seguradora. No entanto, a gente também informa pra seguradora o valor de pico esperado durante a vigência da apólice. Assim: caso o sinistro aconteça no período de pico não há problema na indenização, isso permite que a gente tenha uma apólice mais dinâmica.”
Dois cases importantes foram apresentados no Fórum Abradilan. O primeiro, pelo diretor executivo da A Nossa Drogaria, Leandro Pereira de Souza, que teve um incidente com um incêndio no seu centro de distribuição, na baixada fluminense, no Rio de Janeiro. “Tínhamos três mil metros de um CD em Bom Sucesso e no dia 02 de fevereiro de 2021 pegou fogo, um incêndio de grande proporção. Qual o valor da apólice? Essa foi a primeira pergunta que veio à mente e também o que te salva. Consegui montar um CD provisório em 15 dias com o valor pago pelo sinistro. O dinheiro caiu na conta no dia seguinte e as lojas não ficaram desabastecidas.”
O segundo caso foi o do diretor executivo do Grupo MTF, Marco Aurélio. Ele contou que em 2013 teve um incêndio em um CD de Goiânia, de dois mil metros. “Na época seguro não era muito falado, fizemos com um banco e a grande dificuldade foi a de que não tivemos o apoio de um corretor especializado. No momento da regulamentação do sinistro que é um momento extremamente complicado, são muitos documentos, documentos que se perderam no incêndio e não podíamos espera. Depois de 90 dias recebemos a indenização de forma fracionada.”
Exclusivo para associados
O IGA (Indicadores de Gestão Abradilan), que tem como objetivo fazer com que os distribuidores tenham uma bússola qualitativa, que os que auxilie nas tomadas de decisões importantes para os negócios também estava em pauta no evento.
O diretor executivo da Abradilan, Ivan Coimbra, afirmou no Fórum Abradilan que os indicadores têm trazido ganhos excelentes, sobretudo quando se identifica o que é preciso melhorar, como está a produtividade ou a inadimplência, quais são os custos versus o faturamento da empresa, enfim, temos em mãos informações valiosas, que se tornam ótimas referências para que os associados aprimorem relacionamentos com todos os stakeholders.
O professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Nelson Barrizzelli, ressaltou que a vantagem de participar deste sistema é que os informantes podem comparar os seus resultados com os consolidados do setor. “Essa me parece ser a melhor das vantagens porque normalmente a empresa se compara com aquilo que ela enxerga no mercado, com aquilo que ela vê sendo feito no ponto de venda (PDV). Mas, muitas vezes, os seus concorrentes, estão performando de uma maneira diferente, às vezes, melhor do que a empresa e nesse caso do sistema que nós fornecemos, cada empresa informante pode se comparar com o consolidado do setor e ver se ela está indo melhor ou pior nesse mercado consolidado.”
De acordo com Barrizzelli, o sistema funciona com absoluta segurança. Os dados individuais dos associados não circulam nem na associação nem entre eles. “Nós temos um sistema bastante confiável que é feito através de chaves de 256 posições, que são mudadas todos os meses. Então, depois de um determinado período, as informações desaparecem e entram as informações do mês seguinte que só podem ser conseguidas através dessas chaves que são enviadas pela FIA.”
O IGA começou seis indicadores, mas agora já trabalha com nove. São eles: produtividade, dia de estoque, prazo médio de compras, prazo médio de vendas, inadimplência, colaboradores (turnover), vendas por canal e vendas por categoria de produtos. Todos são fundamentais para o negócio e determinante para a distribuição.
Mudanças na jornada de consumo
Apesar de todos os desafios que a pandemia trouxe para as farmácias, é fato que o período acelerou processos inovadores e mudou o perfil do consumidor e os hábitos de compras.
As rápidas mudanças impostas ao mercado também mostraram aos empresários que o momento é uma ótima oportunidade de evolução do negócio, garantiu durante o Fórum Abradilan o presidente da Febrafar, Edison Tamascia, durante o painel Expectativas do Associativismo e do Varejo Independente. “Não há espaço para amador e quem quer crescer nesse mercado tem que se profissionalizar. Hoje em dia, não há sentido uma farmácia estar sozinha. O associativismo nos permite ser mais competitivos”.
Embora o canal farmacêutico não tenha sido afetado pela pandemia, pelo contrário, até cresceu mais do que estava projetado, é importante analisar que essa performance só será consistente daqui para frente com uma boa gestão, avalia o presidente da Associação do Comércio Farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro (Ascoferj), Luis Carlos Marins.
“Para manter o ritmo de crescimento, é fundamental ter profissionalização, gestão qualificada e planejamento. O empresário precisa estar consciente de que isso não é despesa, mas investimento”.
Ainda segundo Marins, aliar tecnologia para fazer o controle de estoque, estudar as tendências do mercado para ser mais assertivo no mix e sortimento de produtos por conta de espaço físico e buscar sempre boas parcerias são ferramentas econômicas para manter o crescimento consistente do negócio.
“Não há mais margem para erros e os empresários precisam estar atentos às mudanças do mercado. Os dados estão disponíveis para quem quiser analisar. Pensar e executar tudo o que é necessário para prosperar no varejo farmacêutico exige vontade de aprender”.
Para Tamascia, o mundo dos negócios é extremamente complexo, por isso tentar crescer de forma individualizada não é o melhor caminho. “Nos últimos dez anos, a Febrafar cresceu 50% acima do que cresce o mercado. Nos últimos 24 meses, 18 mil farmácias abriram as portas, enquanto 12 mil encerraram seus negócios”.
Diante desse cenário, o presidente da Ascoferj observa que, embora as farmácias independentes tenham apresentado um aumento significativo nas vendas durante a pandemia, “nos próximos anos podemos ter uma queda de faturamento por falta de gestão. Houve uma transformação na forma de consumir produtos e serviços. A composição da venda não pode mais depender apenas de medicamentos. É preciso ampliar o mix de produtos”, enfatizou.
Enquanto na pandemia houve um expressivo aumento na venda de suplementos, vitaminas, álcool em gel, máscaras e antidepressivos, fato facilmente explicável diante do momento vivido, a categoria de Over the Counter (OTC) foi significativamente impactada, analisa Marins. “Tivemos um comportamento atípico durante a pandemia que deve voltar à normalidade nos próximos anos. Ainda sobre projeções, devemos lembrar que a população brasileira está envelhecendo e vai usar mais remédios. Fora isso, os jovens estão apresentando problemas de saúde cada vez mais cedo”.
O presidente da Ascoferj acrescenta que os gestores também devem ficar mais atentos aos itens de Higiene Pessoal e Cosméticos (HPC) e dermocosméticos, que apresentam tendência de crescimento, já que a L´Oreal e P&G aparecem entre os principais players do mercado.
Fonte – Portal Segs