02 de dezembro de 2013

Setor farmacêutico deve fechar o ano de 2013 com alta de dois dígitos e mantém otimismo para 2014

Da Redação

De acordo com projeções recentes do Fundo Monetário Internacional, o Brasil deverá fechar o ano com crescimento de 2,5% no Produto Interno Bruto (PIB), mesmo patamar previsto para 2014 – contudo, menor do que a estimativa anterior do fundo, que previa elevação de 3,2% para o ano que vem. Se essas previsões se confirmarem, o País terá a menor taxa de crescimento entre os emergentes China, Índia, Rússia, África do Sul e México. Embora também esses países tenham tido suas previsões de crescimento reduzidas para 2014. O novo cenário, menos favorável a eles, se deve a problemas regulatórios, de infraestrutura e desajustes fiscais não resolvidos, e ao arrefecimento dos estímulos à economia implementado pelos países desenvolvidos, principalmente pelos EUA, para enfrentar a crise iniciada em 2008. O FED (banco central norte-americano) tem sinalizado inclusive que os juros por lá devem subir, o que fez recentemente o dólar disparar em vários países.

Esse novo cenário global, em que os emergentes perdem fôlego, pegou o Brasil no contrapé, fazendo com que nossos gargalos – problemas na infraesturtura e logística, exportações em baixa, inflação mais alta – se sobressaíssem. A inflação perto do teto da meta (6,5%) obrigou o Banco Central (BC) brasileiro a promover seguidas elevações (cinco até agora) da taxa básica de juros (Selic), que atingiu 9,5% e pode chegar a 10% na próxima reunião do Copom, o que pode comprometer ainda mais o crescimento da economia. Já o dólar – que chegou perto de R$ 2,45 e perdeu fôlego com ações do BC, ficando na casa dos R$ 2,20 – ainda preocupa, pois se caírem os estímulos do governo norte-americano (que inundou o mundo de dólares), a tendência é que ele se valorize, pressione a inflação, reduza o consumo e torne mais caro a compra de insumos e de máquinas pelas empresas brasileiras. Nesse contexto, crescer 2,5% este ano não será de todo mal.

“Nos últimos anos o Brasil sobreviveu, de forma razoável, a duas grandes crises financeiras no cenário internacional – a de 2008 e 2009, que teve como ator principal os EUA e, mais recentemente, entre 2011 e 2013, tendo a Europa como protagonista. Diante de cenários mais recentes, não afirmo que o pior já passou. Fatores como crédito e consumo são muito influentes no humor da economia brasileira. De modo geral, o cenário econômico nacional aponta para perspectivas positivas, e a oscilação que sentimos não demonstra um mercado nervoso ou incerto para os investidores”, avalia o diretor-executivo do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), Marcus Vinícius Andrade.

Segundo o executivo, as medidas que o governo vem tomando para o controle da inflação, como a elevação da Selic, estão gerando melhora nos indicadores, mesmo que proporcionem uma letargia na atividade industrial. “Quem espera uma crise no País ou quem imagina um crescimento substancial apostará errado. Não teremos nem uma coisa nem outra”, acrescenta o professor de pós-graduação e pesquisador associado do FGV-Saúde, da Fundação Getúlio Vargas, Wilson Rezende. “No curto prazo, não há crise no horizonte nem um período mais virtuoso. Teremos um crescimento modesto, na casa dos 2,5%. Por alguns anos será assim.”

Para Rezende, o País mantém, dessa forma, média histórica tímida de crescimento com alguns picos. “O chamado voo de galinha continua como uma boa metáfora para a economia brasileira. Mesmo durante o chamado milagre econômico (início dos anos 1970), quando o País registrou crescimento de dois dígitos, este não se sustentou. Nos últimos 40 anos, a média de crescimento oscila entre 2% e 3%”, observa o professor. Contudo, isso não impede que alguns setores se sobressaiam e cresçam muito mais e de forma sustentada. Entre eles, o agronegócio e o segmento de serviços.

Já no ramo industrial quem tem se destacado, sobretudo na última década, é o SETOR FARMACÊUTICO, com crescimento recorrente de dois dígitos. Entre 2003 e 2011, o Brasil passou da décima para a sexta posição no mercado farmacêutico mundial. Segundo projeção do IMS Health, a posição da indústria farmacêutica brasileira no cenário internacional vai ganhar ainda mais destaque nos próximos anos. Para 2016, a previsão é que o País ocupe a quarta colocação, atrás apenas dos EUA , China e Japão. “Esse cenário oferece as projeções mais otimistas possíveis para a indústria farmacêutica brasileira”, acredita Marcus Vinicius Andrade.
REPRESENTATIVIDADE DE UM ANO BOM

A queda de 10,7% da produção em julho pode ser considerada um ponto fora da curva para a indústria farmacêutica brasileira. “2013 foi um ano bom. O setor manteve o mesmo ritmo de atividade do ano anterior e deve fechar com um índice de crescimento de dois dígitos (entre 10% e 12%), em linha com a tendência dos últimos anos. A indústria farmacêutica deve faturar ao redor de R$ 54 bilhões este ano”, afirma o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini.

Segundo ele, a indústria farmacêutica mantém-se otimista em relação às perspectivas da economia brasileira em 2014 e nos anos vindouros. “O processo de inclusão, ao mercado, de milhões de consumidores das classes C, D e E perdura e deve continuar por um bom tempo. Esse quadro reforça as perspectivas favoráveis para o setor. Vide as grandes e recentes aquisições e fusões no varejo farmacêutico.” “No geral, 2013 tem registrado aumento nas vendas apesar da queda ocorrida em julho. Tivemos ao longo do ano inaugurações de plantas fabris de larga produção, o que aumenta o poder produtivo farmacêutico no País”, revela o presidente-executivo da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Henrique Uchió Tada.

Contudo, Tada ressalta a preocupação com a elevação da moeda norte-americana. “A alta do dólar influencia os custos para aquisição de matéria-prima, uma vez que 85% dos princípios ativos usados na produção de medicamentos no País são importados. Com o dólar elevado fica mais caro importar os insumos farmacêuticos”, diz. A mesma avaliação pode ser feita para aquisição dos equipamentos e máquinas utilizados na produção de medicamentos, visto que a maioria é de fabricação estrangeira.

Nelson Mussolini concorda que o dólar elevado preocupa, mas vê saída no próprio mercado brasileiro. “O aumento da cotação do dólar é sempre preocupante para uma indústria importadora de matérias-primas, mas os planos das empresas são de médio e longo prazo. Por isso, eventuais variações cambiais não afetam diretamente as decisões estratégicas. Vale a percepção de que o mercado tem potencial de crescimento”, diz. Essa é, segundo ele, a razão dos expressivos investimentos que grandes empresas nacionais e internacionais têm feito no mercado farmacêutico brasileiro nos últimos anos. “Nosso maior problema, hoje, são as pressões causadas pelo aumento dos custos, quer em razão dos reajustes salariais, acima dos aumentos dos preços, que ainda são controlados e fixados pelo governo, quer pelo aumento real do preço dos insumos, acima, inclusive da inflação.”
CRISE CONTROLADA

“A realidade do mercado farmacêutico não vivencia crise na indústria, mesmo com as oscilações do dólar e o risco de inflação”, acredita Marcus Vinicius Andrade. “Ao contrário, as projeções são as mais otimistas possíveis. Observamos algumas movimentações de fusão e aquisição, além de grupos estrangeiros chegando em terras nacionais.

De acordo com o estudo do ICTQ/Datafolha, intitulado “Saúde, Medicalização e Qualidade de Vida”, realizado em 132 municípios, atualmente 18% dos brasileiros com idade acima dos 18 anos têm o hábito de consumir analgésicos regularmente. E as projeções desse consumo são de crescimento, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do País. Essa pesquisa revelou ainda que, atualmente, 54% (73,8 milhões) dos brasileiros têm o hábito de tomar algum medicamento regularmente (de vitaminas a antidepressivos). A maior taxa de consumo regular de medicamentos é encontrada entre as mulheres (65%) e entre os mais velhos, com 60 anos ou mais (79%).

O estudo aponta ainda que o consumo regular de medicamentos está associado ao poder aquisitivo do entrevistado, sendo mais expressivo na classe A (63%) e entre os que possuem renda superior a dez salários mínimos (64%). De acordo com Marcus Vinicius Andrade, três fatores são os principais responsáveis pelo crescimento da indústria farmacêutica acima da média nacional no Brasil nos últimos anos: ascensão da classe C, que elevou o poder de consumo em mais de 50% dos brasileiros; envelhecimento da população que, cada vez mais, busca por qualidade de vida frente à falta de infraestrutura médico-hospitalar no Brasil; e mudanças no âmbito regulatório, que colocam os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) ao alcance dos pacientes e dos consumidores.

“O setor é alavancado por emprego e renda. No contexto de um país que incorporou cerca de 25 milhões de pessoas ao mercado de consumo na última década, o Brasil viveu e ainda vive um período especialmente propício neste aspecto”, revela Nelson Mussolini. Com mais um ano de pleno emprego e renda estável em 2013, a indústria farmacêutica se beneficiou, mas também viu problemas. “A exemplo de 2012, a queda de rentabilidade afetou o setor. Houve variação cambial, o reajuste salarial de 8,5% foi bem superior à inflação do período e os preços das tarifas e insumos subiram. Tudo isso influiu diretamente nos custos da indústria farmacêutica, pressionando o caixa das empresas e achatando a rentabilidade”, diz Mussolini, que, contudo, mantém o otimismo.

“Vislumbramos um cenário em que o mercado farmacêutico continue a crescer de forma sustentada, tendo em vista a estabilidade nas taxas de emprego, o crescimento da nova classe média e a continuidade do processo de ampliação do poder de compra dos brasileiros. Some-se a isso a ampliação do acesso da população aos planos de saúde privados e aos serviços de assistência médica em geral e as mudanças no perfil demográfico do País, que vê aumentar o contingente de pessoas da terceira idade. Essa dinâmica promete alavancar o consumo de medicamentos. Em outras palavras, a melhoria das condições socioeconômicas da população brasileira oferece excelentes oportunidades de crescimento para o nosso negócio.”

Num horizonte mais largo, na visão do presidente do Sindusfarma, a indústria farmacêutica fará investimentos para suprir a forte demanda do mercado interno por produtos inovadores, genéricos e genéricos de marca, ampliando paralelamente as exportações para outros países, para os quais o setor já vende cerca de US$ 2 bilhões. “A indústria da saúde, que inclui também outros segmentos, além da produção de remédios, como serviços hospitalares, varejo farmacêutico, planos de saúde, é a que mais cresce no mundo. Se, por exemplo, o PIB crescer 3%, o setor de serviços avança 4,5% e a indústria de saúde, 6%. No Brasil, a realidade não é diferente. Vamos acompanhar esse boom global”, avalia o professor da FGV, Wilson Rezende.
INDÚSTRIA SEGUE APOSTANDO NO PAÍS

“O mercado brasileiro tem fôlego e espaço para crescer, o que é diferente do mercado europeu que está saturado”, revela Henrique Uchió Tada, presidente da Alanac. “A ampliação e inauguração de fábricas exercem fator preponderante no bom momento que as empresas farmacêuticas se encontram, mas principalmente pelo poder de compra do Estado e do mercado brasileiro, que tem espaço para crescer muito mais, visto que o acesso a medicamentos pela população não atinge a sua totalidade”, analisa.

Presente em 40 países e com faturamento na casa dos R$ 6 bilhões, a EMS também tem vivenciado crescimento exponencial. Em 2012, atingiu 27% de alta. O laboratório tem dobrado de tamanho a cada três anos. Quem também tem obtido resultados expressivos é o Teuto, da Pfizer, que foi a empresa que mais cresceu em valor em agosto, segundo levantamento feito pelo IMS Health do Brasil. A pesquisa mostrou que a companhia cresceu 78,9% em relação a agosto de 2012 em unidades produzidas, ganhou três posições no ranking e é a quarta maior do País no segmento. No mercado farmacêutico total, o Teuto está entre os dez primeiros em unidades produzidas e em valor.

Já a japonesa Takeda tem crescido no Brasil à base de aquisições. Em pouco mais de quatro anos, conseguiu se fixar no ranking dos dez maiores laboratórios, com faturamento acima de R$ 800 milhões. Sua primeira ação de peso para ganhar mercado no País foi a aquisição da Nycomed, que permitiu sua entrada na área de MIPs, e mais recentemente, da Multilab, entrando no setor de genéricos. A União Química prevê ampliar em mais de 10% o portfólio de produtos até 2014, quando projeta passar de 600 para 670 medicamentos em carteira. Os lançamentos serão nas áreas hospitalar, de oftalmologia e de saúde animal. Para 30 produtos que chegarão ao mercado até dezembro próximo, foram investidos R$ 20 milhões. Em 2014, chegarão outros 40 medicamentos. A meta é elevar o faturamento bruto em 26% com o aumento das vendas, principalmente na linha de medicamentos com prescrição médica.

As multinacionais também estão de olho no Brasil. Aportou recentemente no País a Mundipharma, fabricante de medicamentos para dor crônica. O laboratório pretende lançar, em cinco anos, de 15 a 17 medicamentos no mercado brasileiro. Inicialmente, as drogas serão importadas de suas fábricas dos EUA e da Inglaterra. Oncologia, doenças respiratórias, artrite e MIP serão outros nichos de atuação da multinacional. Até 2018, a companhia projeta ter entre 12% e 15% do mercado brasileiro. Quem também chegou há pouco tempo e quer fazer do Brasil seu quarto mercado (hoje é o 20º) é o laboratório UCB, que adquiriu a brasileira Meizler Biopharma. Três medicamentos da companhia estão em análise na Anvisa, dois para epilepsia e um para combate à doença de Parkinson, com expectativa de lançá-los em 2014. Importados, esses medicamentos devem ser produzidos no Brasil ao longo dos próximos anos.
Fonte: Guia da Farmácia

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