17 de janeiro de 2017
Anvisa autoriza uso de novo medicamento para tratamento da obesidade no Brasil
O ano começa com uma boa notícia para quem luta contra a balança: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou mais um remédio para emagrecimento no Brasil. Trata-se da lorcaserina, usada como inibidora do apetite nos Estados Unidos desde 2013, mas que estava proibida no País até o final do ano passado.
Com a novidade, médicos e pacientes no País passam a ter uma arma a mais contra a obesidade, doença que atinge um em cada cinco brasileiros (20,8%), segundo dados de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A lorcaserina age estimulando a atuação da serotonina, neurotransmissor que auxilia na regulação do apetite e que está associado ao mecanismo de recompensa do cérebro. Com isso, diminui a sensação de fome e acelera o metabolismo, levando a uma ingestão menor de alimentos e a um aumento na queima de calorias.
O mecanismo de atuação da lorcaserina é similar a de outros inibidores de apetite. O diferencial da nova droga está na lista de efeitos colaterais, menor que a de outros similares.
“Outros remédios agem sobre os receptores da adrenalina no aparelho digestivo, no coração e no cérebro. Caso da sibutramina, que tira a fome, mas aumenta a frequência cardíaca. Já a lorcaserina só atua nos receptores do cérebro, e por isso tem menos efeitos colaterais. Entre os raros que há estão náuseas e dor de cabeça”, explica Mario Quadros, endocrinologista e metabologista.
Indicações
Apesar de animadora, a aprovação da lorcaserina veio cercada de cautela. O remédio só deve ser usado sob orientação médica, sendo indicado apenas para adultos (acima dos 18 anos), obesos (com IMC de 30 ou acima) ou com sobrepeso (IMC de 27 ou acima) e males associados, como doença cardiovascular ou diabetes tipo 2. A prescrição é feita em receita tipo B2 (azul).
Após a aprovação da Anvisa, publicada no último dia 22, o remédio ainda deve levar um tempo para chegar às drogarias – onde deverá ser vendida sob o nome comercial Belviq –, mas já deve estar disponível em farmácias de manipulação.
Quadros salienta a importância da supervisão médica no tratamento com a droga. “Ela não pode ser utilizada em conjunto com a grande maioria dos remédios para enxaqueca nem com outros para depressão”, assinala o médico. E após o início da terapia, ele acresce, os pacientes que não perderem ao menos 5% do peso inicial após 12 semanas devem descontinuar o uso.
Uma opção a mais
Cautela à parte, Quadros vê a liberação do medicamento no Brasil com bons olhos. “A lorcaserina é um dos remédios mais usados nos Estados Unidos para emagrecimento. Queríamos que a droga fosse liberada porque desde 2011, quando foram proibidos os remédios anfetamínicos, população e médicos ficaram sem opções para tratamento”.
A Anvisa aponta como justificativas para essas proibições os efeitos colaterais negativos. Para Quadros, todavia, é preciso colocar todos os fatores na balança. “Porém, a obesidade causa mais prejuízos ao organismo do que o uso de um medicamento. Não se pode transferir ao medicamento toda a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do tratamento. O que é preciso é usar de maneira correta”, diz Quadros.
Ele assinala ainda o papel do paciente e a importância de atividade física e dieta em qualquer tratamento para controle de peso.
“As pessoas acham que emagrecer é passar fome, é se privar, e na verdade ela é uma organização – de refeições, de horários e por aí vai. O remédio não é solução mágica, mas uma boia para o paciente se apoiar. É importante que o paciente tome consciência de que precisa mudar seus hábitos de vida e se manter magro”, finaliza.
Três perguntas para Filippo Pedrinola, endocrinologista
Qual o diferencial da lorcaserina em relação a outros medicamentos similares hoje disponíveis no Brasil?
Ela atua no receptor de serotonina HT2C do cérebro e tem ação semelhante à sibutramina, mas é uma substância diferente. Alguns pacientes têm resultados melhores com uma ou outra, em relação a efeitos colaterais. Ela tem efeito ainda no aumento do metabolismo.
Já existem dados sobre o uso da droga e sua eficácia?
Sim. Como ela foi aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration, órgão responsável pelo controle de medicamentos e de alimentos nos Estados Unidos) em 2012, teve de passar por estudos de fase 1, 2 e 3, que incluem testes de segurança e de eficácia.
Para os pacientes e médicos que lidam com obesidade e/ou sobrepeso no Brasil, que perspectivas se abrem com a liberação da lorcaserina?
É sempre muito bom quando aumenta o arsenal disponível para os médicos no tratamento de obesidade. Os três medicamentos aprovados no Brasil hoje são poucos: temos liraglutida, sibutramina e orlistat. Muitos pacientes têm respostas individuais a cada um deles, e tem sempre quem não se adapte a algum deles, sendo precisar optar por outro.
Outros medicamentos hoje em uso para controle do peso no Brasil
Glicinia cambogia: fitoterápico feito do extrato de uma pequena fruta originária da Indonésia, ajuda a diminuir o apetite. Único hoje no mercado que pode ser adquirido sem receita.
Sibutramina: inibe o apetite e estimula o metabolismo. Foi alvo de polêmica por causar aumento do risco de acidente cardiovascular. “Outro problema é que 37% dos pacientes não respondem ao tratamento”, acrescenta Mario Quadros.
Bupropriona: antidepressivo, age como inibidor na recaptação da serotonina e contribui para diminuir a sensação de fome causada por ansiedade. Tem menos efeitos colaterais que a sibutramina.
Naltrexona: desenvolvido como anticonvulsionante, tem efeito inibidor de apetite em baixas doses.
Liraglutida: indicada para pacientes diabéticos, atua diminuindo a movimentação no estômago e nos intestinos, dando sensação de saciedade. Estimula ainda a ação da insulina.
Orlistat: inibe a ação das enzimas que metabolizam a gordura na digestão, evitando sua absorção pelo organismo.
Fonte: A Crítica Online – AM