19 de novembro de 2024
02 de outubro de 2020
Cegueira irreversível por glaucoma é desconhecida por 53%
Grande parte da sociedade brasileira não está ciente sobre a importância da frequência às consultas ao oftalmologista, sabe pouco sobre o glaucoma e desconhece seu risco de cegueira. Essas são algumas das conclusões da pesquisa “Um olhar para o glaucoma no Brasil”, aplicada pelo IBOPE Inteligência a 2,7 mil internautas brasileiros, a partir dos 18 anos de idade, em diferentes regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Pernambuco.
O levantamento faz parte de uma ampla investigação sobre o cenário do glaucoma no Brasil e a necessidade de uma nova visão sobre a doença. A iniciativa contempla também o lançamento da campanha de conscientização “Não perca seu mundo de vista, tenha um novo olhar para o glaucoma”, conduzida pela Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) e pela Upjohn, divisão da Pfizer focada em doenças crônicas não transmissíveis.
“Confirmar o quanto existe de desinformação sobre o glaucoma é muito preocupante. Mais da metade dos entrevistados não sabe que é a maior causa de cegueira irreversível e 41% não conhece a doença que atinge diversos grupos da população. Além disso, segundo dados do IBGE, a deficiência visual mostrou-se a mais frequente no Brasil, atingindo aproximadamente 7,2 milhões de pessoas1”, afirma Luiz Fernando Vieira, gerente médico da Upjohn.
Saúde ocular
A desinformação sobre a relevância do cuidado com a visão é, de fato, muito evidente na pesquisa. Quando perguntados sobre a frequência que vão ao especialista, 10% dos entrevistados assumiram que nunca foram e 25% disseram que raramente, apenas quando sentem algum incômodo nos olhos. Destaque para as faixas etárias mais jovens: um a cada cinco relatou nunca ter ido ao oftalmologista (21%) e 10% foram uma única vez na vida. Embora a maioria (73%) dos que têm 55 anos ou mais – público que deveria ter uma preocupação ainda maior com desenvolvimento de doenças oculares -, visite o oftalmologista uma vez ou mais por ano, a pesquisa mostra que 1 em cada 4 deles não possui uma rotina de visitas ao oftalmologista.
Além disso, do total da amostra, 30% acreditam que deva procurar o oftalmologista somente depois que começa a usar óculos e 23% após perceberem alguma perda de visão.
Na sua opinião, quando a visita ao oftalmologista deve se tornar frequente (pelo menos uma vez ao ano)? | ||||||
IDADE | ||||||
TOTAL | 18 A 24 | 25 A 34 | 35 A 44 | 45 A 54 | 55 E MAIS | |
Na terceira idade, a partir dos 60 anos | 5% | 5% | 5% | 3% | 4% | 10% |
Quando a pessoa começa a usar óculos | 30% | 32% | 31% | 28% | 28% | 33% |
A partir dos 40 anos | 19% | 11% | 12% | 23% | 30% | 22% |
Quando a pessoa percebe alguma perda de visão | 23% | 20% | 22% | 20% | 29% | 24% |
Quando a pessoa sente dor nos olhos | 13% | 21% | 18% | 13% | 6% | 4% |
Não sei responder | 9% | 11% | 11% | 12% | 3% | 6% |
“A sociedade, principalmente os jovens adultos, desconhece a seriedade das doenças oculares e entende que deve esperar por sintomas para buscar ajuda ou até mesmo relaciona que essa procura deve ser apenas quando estiver mais velho”, explica. “Porém, a rotina na ida ao oftalmologista é essencial para o diagnóstico precoce de patologias e para prevenção da cegueira”, conclui o diretor.
Apesar de entenderem que a exposição ao sol também requer cuidados com os olhos, que precisam ser protegidos da radiação ultravioleta por meio de óculos escuros (86%), que o uso excessivo de eletrônicos, como TV, computador, tablet e smartphone, pode ressecar os olhos e atrapalhar o sono (83%) e que coçar os olhos pode causar irritações, lesões oculares ou até problemas na córnea (82%), 13% visitam o especialista apenas quando têm alguma dor nos olhos. Já entre os entrevistados jovens adultos, com 18 a 24 anos, esse porcentual sobe para 21%.
Alguns dados também chamam a atenção regionalmente: 18% dos internautas baianos e proporção idêntica de catarinenses aguardam sentir algum incômodo para agendamento médico, 33% dos cearenses acreditam que a consulta deve ocorrer após começar a usar óculos e 32% dos catarinenses apenas quando percebe alguma perda de visão.
Glaucoma e grupos de risco: um amplo desconhecimento
Estatísticas fornecidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que o glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo, ficando atrás apenas da catarata. Entretanto, representa um desafio maior para a saúde pública do que a catarata, porque a cegueira causada pelo glaucoma é irreversível2.
Mais do que indicar a falta de conhecimento sobre a importância das consultas com especialistas, a pesquisa revela uma forte desinformação a respeito da patologia. Mais da metade (53%) desconhece que a doença possui a maior probabilidade de um quadro de cegueira irreversível e 41% sequer sabem o que é glaucoma, chegando a 53% dos jovens de 18 a 24 anos (ante 71% entre os com 55 anos ou mais) e 44% do público masculino entrevistado (contra 38% das mulheres).
Você sabe o que é glaucoma? | ||||||||
SEXO | IDADE | |||||||
TOTAL | MAS | FEM | 18 A 24 | 25 A 34 | 35 A 44 | 45 A 54 | 55 E MAIS | |
Sim | 59% | 56% | 62% | 47% | 53% | 64% | 64% | 71% |
Não | 41% | 44% | 38% | 53% | 47% | 36% | 36% | 29% |
Sobre a pressão intraocular, principal exame para prevenção e controle da doença, 52% desconhecem se já mediram, não sabiam que existia ou se o oftalmologista já mediu. Esse percentual sobe para 58% no Rio Grande do Sul e 60% entre a classe C, sendo que mais de 90% das pessoas com deficiência visual no mundo vivem em países pobres ou em desenvolvimento3.
“As fases dentro dos tipos de glaucoma – aberto ou fechado – são muitas vezes assintomáticas e os pacientes muitas vezes buscam o tratamento em uma fase já bastante adiantada da doença. Uma vez que a visão foi perdida, ela não pode ser restaurada”, relata o mestre e doutor em Oftalmologia, Augusto Paranhos Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).
Apesar de 53% assumirem que ficariam abalados ao perder a visão por receio de perder a autonomia para fazer as atividades do dia a dia e depender das pessoas, apenas 37% entendem que a ida ao oftalmologista com frequência é uma medida que ajuda a diminuir os riscos. Contraponto para 39% que desconhecem sua probabilidade de cegueira, com destaque para o número de negros e pardos que sobe para 42%. E 15% associam a perda da visão com o desconforto nos olhos, então entendem não estar no grupo de risco.
Alguns públicos estão mais propensos ao glaucoma e a pesquisa reforça que a maioria das pessoas desconhece quais fazem parte desse quadro. Estima-se que entre 2 a 3% da população brasileira acima de 40 anos possam ter a doença, o que representa cerca de 1,5 milhão de pessoas. Além de existir a maior chance de desenvolvimento em pessoas com casos na família, afrodescendentes e pacientes com pressão intraocular elevada3. O levantamento revela que quase metade (47%) acreditava ser um mito ou desconheciam a relação com a hereditariedade. Além disso, 90% não associavam a patologia com a afrodescendência, sendo que a porcentagem se mantém elevada entre os pretos e pardos entrevistados (86%).
Ainda em relação aos públicos de risco, 63% entendem que doenças metabólicas, como o diabetes, podem aumentar o risco de glaucoma. “Isso ocorre porque os pacientes diagnosticados fazem acompanhamento médico constante e entendem seu risco de cegueira. Por isso, o conhecimento é maior dentro desse grupo”, avalia Paranhos.
Diagnóstico, tratamento e adesão
Projeções do IAPB (Agência Internacional para Prevenção da Cegueira) indicavam aproximadamente 80 milhões de pessoas com glaucoma em todo o mundo e estimavam que 3,2 milhões de pessoas ficariam cegas devido à doença até o final de 20204.
Também com base em estudos brasileiros, há um grande número de pacientes não tratados devido a dificuldades de diagnóstico e baixa adesão. Apenas 10% são diagnosticados e tratados5 e 41% abandonam o tratamento devido a dificuldades de acesso6. Dado que pode ser comprovado ponderando a condição financeira dos entrevistados, quando 83% dos que pertencem à classe A afirmam que vão ao oftalmologista pelo menos uma vez ou mais de uma vez por ano, enquanto esse número cai para 46% na classe C. Cerca de 50% da população com glaucoma não sabe que têm a doença, ou seja, ainda não foram diagnosticados7.
Perguntados no levantamento sobre os tratamentos para glaucoma, mais da metade (51%) não soube opinar a respeito, acredita não existir tratamento ou que usar óculos ou lentes de contato diariamente corrige o problema.
“A maioria dos entrevistados não soube opinar ou acredita ser mito não existir uma cura para o glaucoma, outro dado importante que revela o desconhecimento que permeia a doença. É possível estabilizar o glaucoma e evitar a progressão da cegueira, por isso a importância do diagnóstico precoce. Porém, temos de frisar: não existe cura e, sim, prevenção”, analisa o presidente da SBG.
A automedicação também é um tema relevante, já que 28% discordam ou não sabem sobre a necessidade de consulta médica para utilização de colírios. Entre os jovens de 18 a 24 anos, destaque para quase 1 a cada 3 (32%) que acreditam que esses medicamentos são inofensivos ou não sabem opinar sobre a necessidade de consultar um especialista para usa-los. A Anvisa alerta que os colírios corticosteroides devem ser vendidos sob prescrição médica, de forma a evitar o seu uso indiscriminado e incorreto devido aos riscos à visão associados ao uso inadequado dessas substâncias8.
A OMS aponta que se houvesse um número maior de ações efetivas de prevenção e/ou tratamento, 80% dos casos de cegueira poderiam ser prevenidos ou curados9. “Vale lembrar que estamos falando de uma doença de elevado potencial e que está associada a um desfecho irreversível que é a cegueira. Por isso, reforçamos a importância da frequência médica para prevenir e de iniciativas de conscientização para fomentar o diálogo sobre o tema”, destaca Vieira.
Referências:
- Pesquisa nacional de saúde: 2013: ciclos de vida: Brasil e grandes regiões / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2015. 92 p.
- Kingman L. Glaucoma is second leading cause of blindness globally. Bulletin of the World Health Organisation, 2004; 82 (11): 887-8.
- OttaianoJJ; ÁvilaMP; UmbelinoCC; TalebAC. As Condições de Saúde Ocular no Brasil 2019. Edição 1 – 2019.p14.
- Von-Bischhoffshausen e Jiménez-Román J. GUÍA LATINOAMERICANA DE GLAUCOMA PRIMARIO DE ÁNGULO ABIERTO PARA EL MÉDICO OFTALMÓLOGO GENERAL. IAPB.p93.
- Ramalho, Cristiana Moraes et al. Perfil socioeconômico dos portadores de glaucoma no serviço de oftalmologia do hospital universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora – Minas Gerais – Brasil. Arq. Bras. Oftalmol., Out 2007, vol.70, no.5, p.809-813. ISSN 0004-2749
- Topouzis F, Anastasopoulos E. Glaucoma – The importance of early detection and early treatment. US Ophthalmic Review. 2007;2:12-13.
- Topouzis F, Anastasopoulos E. Glaucoma – The importance of early detection and early treatment. US Ophthalmic Review. 2007;2:12-13.
- Acesso disponível em: https://bit.ly/2Zq6Xk3 Acesso em 13.07.2020.
- World Health Organization. < https://www.who.int/blindness/world_sight_day/2017/en/>. Acesso em 18 nov 2019.