23 de abril de 2024

Envelhecimento da população e ampliação de acesso a tratamentos de qualidade

A Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan) realizou um debate importante e de altíssima relevância (o envelhecimento da população), durante o seu tradicional Encontro de Líderes, evento que acontece em paralelo ao Conexão Farma, para associados, sócios colaboradores e convidados. 

Neste ano, fizeram parte da mesa redonda, o presidente da Abradilan, Juliano Cunha Vinhal; o presidente da Federação Brasileira de Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia; O CEO da Pague Menos, Jonas Marques; o VP da IQVIA, Sydney Clark; e o presidente do Aché, José Vicente Marino. O tema foi O Brasil como Sexto Maior Mercado Mundial: Desafios e Perspectivas para o Futuro, conduzido pela jornalista Viviane Massi.

Envelhecimento da população foi o tópico de abertura, já que causa muito impacto para as vendas do varejo farmacêutico e, consequentemente, para o mercado como todo. Tamascia pontuou que até 2050, todos os anos haverá a inserção de 1 milhão de pessoas entrando nessa fase. “Quando você pega o tíquete de um consumidor que tenha entre 50 e 60 anos de idade e compara com o tíquete do consumidor que tem de 60 a 70, você tem um aumento de vendas de 17%. Então, existe um ganho excepcional. Mas eu confesso que vi poucas ações para atendimento deste público sendo realizadas, ainda são poucas experiências.”

Ele citou ainda que quando se fala em envelhecimento da população, logo se pensa em medicamento. Cerca de 70% das pessoas que entram em uma farmácia, entram para buscar medicamento. Mas hoje há uma indústria cuidando muito mais da alimentação, da nutrição, então é possível trabalhar com produtos que praticamente não existiam cinco anos atrás. “Uma categoria totalmente desconhecida, passa a ser extremamente relevante em pouco tempo.”

Falando de envelhecimento e importância da vida das pessoas, Marques, da Pague Menos, disse que o varejo farmacêutico brasileiro ainda não está preparado e é preciso se preparar. “Eu vim da indústria para o varejo e o que mais me chocou foi ver que muita gente chama varejo de loja. Loja é aquela que vende pneu, materiais de construção… Vamos passar a chamar de farmácia, porque farmácia é um centro de humanização. A terceira idade deseja um atendimento humanizado, com adesão ao tratamento e muita informação.”

Marques pontuou que a Pague Menos tem hoje 1.700 farmácias; mais de 1.000 clínicas, com 59 serviços. “Nós damos isso para o idoso, para todos os pacientes, mas eu acho que nós temos que ir além e nos preparar melhor, porque a vida é uma coisa muito frágil.”

Para se preparar melhor, o executivo mencionou que existem alguns desafios porque as farmácias têm cada vez menos tempo para cuidar de uma pessoa dentro do ponto de venda (PDV), não só dentro dele, mas também fora. “Veja que, no envelhecimento da população, as pessoas precisam de mais atenção, de mais tempo, você precisa explicar melhor a posologia, a jornada desse consumidor se estratificou mais, ela mudou, e a gente tem que realmente se preparar para o novo momento do Brasil, para esse envelhecimento da população, mas principalmente lembrando que nós somos humanos, e precisamos ser bem cuidados.”

Impacto da quebra das patentes

A quebra de patentes se configura como uma excelente oportunidade de ampliação de acesso da população aos tratamentos. Segundo Vicente, do Aché, essa sempre foi a missão da indústria farmacêutica brasileira e ela sempre cumpriu esse papel. À medida que uma molécula perde patente, você desenvolve essa mesma molécula e amplia o acesso para a população.

Ele explicou que os medicamentos estão ficando obsoletos muito rápido. “Vamos pegar o caso da sildenafila que, quando quebrou patente em 2010, tivemos cinco marcas similares e cinco genéricos entrando no mercado. Quando a gente pega, agora, a rivaroxabana, tivemos dez marcas similares e 17 marcas genéticas entrando. O que faz com que as moléculas fiquem obsoletas muito rápido. A gente está vendo os biológicos substituindo os sintéticos cada vez mais, e eu acho que isso tem um impacto importante na distribuição, tem um impacto importante na escolha do mix, como a gente viu, que é um dos principais drivers de crescimento do varejo farmacêutico. É ter o mix correto para poder atender.”

Mais do que ter uma quantidade enorme de produtos, é preciso pensar em tratamentos de qualidade, ou seja, como atender mais gente com o melhor tratamento possível.  O problema é que existe um desafio importante na cadeia de valor. “Para desenvolver um produto se gasta muito dinheiro, e os projetos de desenvolvimento ficaram cada vez mais caros, com retornos cada vez menores, então existe aí uma complexidade econômica em toda a cadeia”, observou Vicente.

No Brasil, genéricos ainda representam apenas 35% do volume total do mercado de sintéticos, o que é um número pequeno, se comparado com outros países, mais desenvolvidos, onde o genérico é 45%, 50%, então, o mercado de genéricos vai continuar crescendo, e os similares de marca não deixam de ser um genérico de marca. “É um mercado que continua crescendo, continua crescendo em volume, porém, em valor, há uma perda. 

Clark, da IQVIA, complementou dizendo: “A gente tem mais uns cinco anos aí, onde ainda vai ter essa realidade de grandes quebras de patente no mercado de varejo. Passados esses cinco anos, vai ser cada vez mais raro ter um medicamento sintético de volume, e valor muito grande, a vir perder patente no mercado varejo. Essa dinâmica que foi, por vezes, uma oportunidade muito grande para todos os elos da cadeia, que beneficia o paciente no final também, vai ser cada vez mais escassa, porque cada vez mais, a indústria investe no outro lado da equação, são em áreas terapêuticas com necessidades não atendidas, oncologia, autoimune, doenças raras, entre outras.”

Distribuição: elo importante para novo produtos

A distribuição tem um papel muito importante quando se fala sobre como fazer novos produtos chegarem à farmácia, principalmente, às independentes, que é hoje o maior mercado da distribuição. 

Dentro deste cenário, a Abradilan tem a missão de levar conhecimento ao varejo, mas essa é uma decisão individual. “Essa cadeia precisa ganhar valor, e não perder valor. A gente vive um momento de desafio do mercado querer ganhar esse valor. O grande desafio de todos do segmento hoje é que o custo operacional evoluiu muito rápido, principalmente pós-pandemia, e o valor também diminuiu muito rápido (de alguns produtos). No que diz respeito à cadeia fria, não pode haver interrupção do transporte e nem retorno, porque há prejuízo quando você não é assertivo no modelo. E a gente vê que esse mercado realmente estabeleceu uma cadeia de especialidade, alguns players se especializaram nisso, tem um volume considerável disso, mas são poucos os PDVs País afora, uma venda entregue em casa. Eu acho que o mercado precisa aproveitar esse embalo, com a prateleira infinita.

Com a realização do Conexão Farma, a Abradilan consegue apresentar ao mercado quais são as novas oportunidades, qual é o mix que dá para agregar no negócio. “O grande desafio, e aí assim, fazendo um paralelo de responsabilidades, é que também a gente tenha da indústria, o que, para quem, quando e como, crescer, aumentar mix, posicionar melhor o valor disso aí na cadeia, e que a gente possa também ser uma gestão de vista aberta mesmo, dizendo ‘esse produto é importante… esse valor é significativo… é importante que ele esteja posicionado nessa situação’ para que possamos, de fato, atender melhor o consumidor, ampliar o acesso com mais precisão”, enfatizou Vinhal.

Fonte – Portal da Abradilan

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